Pesquisa sobre biomassa ganha primeiro lugar no Prêmio Jovem Cientista

Uma pesquisa simples, com pouco investimento e bem brasileira ganhou o primeiro lugar no XXII Prêmio Jovem Cientista, na categoria graduados, anunciado em março, em Brasília. O trabalho “Uso da casca de banana para tratamento de efluentes radioativos” faz parte do projeto de mestrado de Milena Rodrigues Boniolo, que desenvolve sua pesquisa no Centro de Química e Meio Ambiente (CQMA)do Ipen, orientada por Mitiko Yamaura.

Este ano o tema da premiação, iniciativa do CNPq, Grupo Gerdau, Eletrás/Procel e Fundação Roberto Marinho, foi “Gestão sustentável da biodiversidade: desafio do milênio”. Trata-se de um dos mais importantes prêmios da área de C&T no país. O estudo de Boniolo integra a linha de pesquisa que utiliza biomassa residual para tratamento de efluentes contaminados. A idéia de utilizar a casca de banana para remover poluentes partiu da jovem paulistana, de 25 anos. Ela conversou com sua orientadora sobre a idéia de utilizar a casca da banana, preparou as amostras em casa e trouxe para testá-las no laboratório, no Ipen. Em casa, conta ela, era proibido jogar cascas de banana no lixo.

As cascas foram cortadas em pedaços pequenos e secas, sob ação do sol. O material foi moído em um processador de alimentos e separado utilizando-se peneiras granulométricas, de diferentes tamanhos. O pó obtido foi colocado em soluções contendo íons de urânio e o índice de remoção chegou a 65%. O procedimento pode ser repetido para percentuais maiores de remoção. O processo chamado de adsorção permite que íons de urânio, com carga positiva, se combinem com as partículas de casca de banana, com carga negativa. Quanto menor o tamanho do adsorvente, maior a área de superfície, o que significa melhor percentual de remoção.

Os experimentos foram realizados em temperatura ambiente, entre 23 e 27 graus Celsius. As soluções contendo urânio foram agitadas durante tempo pré-estabelecido e melhores resultados foram obtidos com 40 minutos de contato entre o adsorvente e o adsorvedor. O processo apresenta baixo custo e envolve material natural, abundante e biodegradável, explica a pesquisadora. “Estamos reduzindo impacto ambiental duplamente, porque o que seria desperdiçado passa a ser utilizado de forma nobre”, destaca Boniolo.

Cenário

O Brasil é o segundo maior produtor mundial da fruta (em primeiro está a Índia) e um dos maiores consumidores. São seis milhões de toneladas de produção anual. Além das perdas agrícolas, que atingem de 20 a 40% da produção, ocorrem perdas na etapa de comercialização, estimadas em torno de 40%.

Na produção de fertilizantes, essenciais à agricultura, por exemplo, são gerados sub-produtos contendo urânio e tório. Efluentes contendo outros metais pesados também podem ser tratados pelo processo. Para a orientadora, Mitiko Yamaura, o baixo custo do projeto e a sustentabilidade são os méritos da pesquisa. Yamaura orienta estudos utilizando, por exemplo, bagaço de cana-de-açúcar, fibras de coco, quitosana (material proveniente da parte externa do esqueleto de crustáceos).

Para a produção de cada tonelada de fertilizantes são geradas três toneladas de fosfogesso, um subproduto rico em urânio. Dados de 2005 mostram que apenas uma empresa produziu 875 mil toneladas do produto. Além dos custos de estocagem há riscos de contaminação ambiental.
Milena Boniolo pretende investir na mesma linha de pesquisa no seu doutorado. Ela pensa em desenvolver, a partir da casca de banana, um filtro para reter os poluentes. “A idéia é desenvolver um projeto piloto, algo bem simples, e até, quem sabe, investir na capacitação de comu-nidades locais para a utilização do processo”. “Sou fã de Albert Einstein e ele dizia que a solução das coisas está na simplicidade”, conclui a química, formada em 2004 pelas Faculdades Oswaldo Cruz, em São Paulo, que ingressou no programa de pós-graduação em Tecnologia Nuclear do Ipen em março de 2005. Sua dissertação de mestrado deve ser defendida ainda este ano.

Premiação

A premiação é entregue pelo presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. Foram 1.751 inscri-ções de todo o país, sendo 268 na categoria Graduado, 128 na categoria Estudante do Ensino Superior e 1.355 na categoria Estudante do Ensino Médio. O prêmio foi criado pelo CNPq em 1981, para incentivar a pesquisa nacional. Os temas estão relacionados a interesses diretos da população e a soluções para problemas do cotidiano dos cidadãos.

A instituição de ensino superior agraciada com o mérito institucional foi a Universidade de São Paulo (USP), e a de ensino médio, a Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo (RS). A menção honrosa foi entregue ao professor do Departamento de Botânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Alfredo Joly.

A pesquisa “Avaliação do impacto do reflorestamento de restingas sobre a comunidade de borboletas Nymphalidae”, de Ericka de Almeida Lima-Verde, estudante de Ciências Biológicas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), venceu na categoria Estudante do Ensino Superior. Felipe Arditti, da Escola Brasileira Israelita Chaim Nachman Bialik, em São Paulo, foi o ganhador na categoria Estudante do Ensino Médio com a pesquisa “Controle de emissão de poluentes: conseqüências e soluções da evolução dos objetivos científicos”.

Outras informações sobre a 22ª edição do Prêmio Jovem Cientista em todas as categorias podem ser acessadas no site www.cnpq.br/saladeimprensa/noticias/2007/0306.htm.

Disponível em:  http://www.ipen.br/sitio/?idc=3193


Postado por: Priscilla Ferreira

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